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25 de Setembro de 2015

São Junípero Serra: um exemplo para os nossos dias

Como católico e, mais ainda, como seminarista, sempre procuro referências cristãs nas cidades por onde passo. Não é difícil encontra-las: elas estão nos nomes das ruas, nos monumentos, nas obras de arte ou nas igrejas. Nos Estados Unidos, um país de maioria protestante, não poderia ser diferente. A referência chega até mesmo às notas de dólar que as pessoas trocam a todo o tempo neste país conhecido especialmente pela lógica consumista.

Porém, o clamor pela laicização da sociedade tem se espalhado pelo ocidente desde a afamada Revolução Francesa, evento ilustrado pelo movimento iluminista, que proclamava, dentre outras coisas, a libertação dos “dogmas” do passado. Nos Estados Unidos já propuseram retirar das notas de dólar a frase “in God we Trust” (Acreditamos em Deus, em tradução livre) a fim de agradar aqueles que acreditam na neutralidade religiosa do Estado. Porém, nenhuma iniciativa teve sucesso até o momento, considerando que a própria constituição americana faz menção a Deus como um dos pilares daquela nação.

Em julho passado, tive a oportunidade de visitar Washington, DC, a capital dos Estados Unidos. Na visita ao Capitólio (o Congresso Norte-americano), impressionou-me o chamado National Statuary Hall, um grande salão que contém várias estátuas, cada uma representando um estado norte-americano. Uma estátua em particular me chamou a atenção: toda feita de bronze, ela mostrava um frade franciscano erguendo imponentemente um crucifixo numa mão e uma igreja em outra. Trata-se da estátua de frei Junípero Serra, um frade da Ordem dos Frades Menores do século XVIII. Minha surpresa foi dupla: primeiro por ver uma figura religiosa reverenciada no edifício político mais importante das Américas; segundo por essa figura ser nada menos que um padre católico.

Assim como no caso da frase nas notas de dólar, várias vezes tentaram substituir a estátua do fundador do estado da Califórnia no Capitólio. A última tentativa propunha a mudança pela estátua de Sally Ride, a primeira mulher norte-americana a ir para o espaço. Mas lendo um pouco da biografia do santo canonizado no último dia 23 de setembro, percebo o quanto o Congresso norte-americano teria a perder ao substituir a estátua e, consequentemente, o exemplo de Junípero Serra. Serra deixou sua terra, sua família e seus confrades no século XVIII, enfrentou meses de viagem num barco e preparou seu coração para os desafios que o esperavam no Novo Mundo. Ao chegar, desbravou terras desconhecidas, aprendeu a língua e os costumes dos nativos, defendeu seus interesses em relação aos exploradores europeus e acima de tudo, aprendeu como despertar e nutrir a fé no coração daqueles que encontrou em seu caminho. 

O exemplo de Serra fala muito ao mundo de hoje. Seu lema, “Siempre adelante!”, mostra ao mundo moderno que progresso vai muito além do desenvolvimento econômico, da justiça social ou de qualquer tipo de conforto que o homem possa construir com suas mãos. Para ele, o homem progredia, antes de tudo, quando caminhava rumo à plenitude em Deus, como deixou claro nas linhas finais de sua última carta: “que atinjamos o sucesso pelas mãos da Imaculada e, o quanto antes, o paraíso!”.

Como diz o Papa Francisco, Junípero Serra “seguia em frente para continuar experimentando a alegria do Evangelho, seguia em frente para não deixar seu coração se anestesiar, seguia em frente porque o Senhor o esperava”. Enfim, ele sempre seguia em frente porque possuía o combustível do amor a Deus e do amor ao próximo. Amores que, no fim das contas, resumem todos os mandamentos.

Por Vinícius Farias