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08 de Novembro de 2015

Ser Missionário: sair de si mesmo e servir sem medo

Todos somos chamados a ser discípulos missionários de Jesus. Assim nos exorta o Documento de Aparecida. Discípulo significa "aprendiz", aquele que aprende com o Mestre. Missionário significa "enviado" no sentido de missão, ou seja, é aquele que põe em prática o que aprendeu; aquele que serve a todos que estão ao seu redor. Isso me impulsionou, no ano passado, a aceitar o convite para fazer parte do COMISE (Conselho Missionário de Seminaristas), que a seguir descreverei para um maior esclarecimento do que se trata este Conselho Missionário. Neste ano, assumi a coordenação, mesmo sem muita experiência, pois até então só havia participado de uma Formise (Formação Missionária de Seminaristas).


O Conselho Missionário de Seminaristas


O COMISE está ligado à Pontifícia União Missionária – obra fundada pelo Bem-aventurado Padre Paulo Manna, em 1916, e declarada Pontifícia pelo Papa Pio XII em 1956. O objetivo do COMISE é proporcionar aos futuros presbíteros e candidatos à Vida Religiosa Consagrada uma sólida espiritualidade e formação missionária capaz de enfrentar os desafios da missão universal da Igreja. A existência do COMISE se fundamenta em documentos da Igreja.

Várias são as atividades do Conselho Missionário, mas as principais são: encontros periódicos para refletir e estudar temas de espiritualidade e formação missionária, participar de cursos, formações (Formise), eventos e congressos missionários, organizar o Cofrinho Missionário para oferta pessoal e comunitária como fruto de pequenos sacrifícios livremente assumidos, realizar no Seminário a Campanha Missionária do mês de outubro, com a Novena e a coleta do Dia Mundial das Missões e preparar encontros com missionários para troca de partilha e momentos de reflexão sobre a missão. O COMISE pode ser organizado no âmbito do seminário, aqui é o nosso caso, também de Diocese, Província Eclesiástica ou Regional. A coordenação do Conselho Missionário é composta pelo coordenador, vice-coordenador, secretário, tesoureiro e assessor de comunicação.

Tenho buscado com afinco e esperança desempenhar a tarefa de coordenar o COMISE do Seminário Maior de Brasília. Cabe à coordenação garantir o funcionamento do Conselho Missionário, preparar as reuniões e atividades e zelar pelo cumprimento da programação anual. Para acompanhar a caminhada do COMISE, dispomos de um assessor, aqui em nosso caso, o Magnífico Reitor Padre Marco Forero, PSS, que durante este ano foi um grande incentivador e deu suporte em todas as atividades realizadas.

Durante este meu primeiro ano de Coordenação, tive a graça de participar do 2º Congresso Missionário Nacional de Seminaristas, e lá depois de muitas reflexões, partilhas e apontamentos por parte dos leigos, seminaristas, religiosos, padres e bispos chegamos à conclusão da necessidade de uma Comissão Nacional de Organização e Articulação de COMISE’s. Esta proposta foi aceita pela diretoria das Pontifícias Obras Missionárias e após reunião com os coordenadores de COMISE’s de todo Brasil, recebi o encargo de Secretário Nacional desta Comissão, bem como o de ser o Coordenador Referencial da Macrorregião Centro-Oeste e do Regional Centro-Oeste. O principal objetivo da Comissão Nacional dos COMISE’s é motivar a criação e articulação de COMISEs nos seminários diocesanos e religiosos, buscando apoio dos reitores, formadores de seminários e casas religiosas, bem como dos bispos. Como secretário desta Comissão, tenho buscado desenvolver as tarefas com muito zelo, simplicidade, compromisso e com o coração cheio de fé e esperança no Senhor que chama e envia para o serviço da Evangelização, pois bem afirma o Papa Bento XVI: “O compromisso missionário é uma dimensão essencial da fé: não se crê verdadeiramente se não se evangeliza”.


A vida missionária


Não são tarefas fáceis para quem a menos de um ano ingressou no  COMISE, porém não é impossível. Sinto a obrigação de dispor em favor do projeto missionário de Jesus toda minha vida e vocação, pois cada pessoa que tem a graça de fazer a experiência pessoal de ser amada por Deus, sente um impulso a propagar a Boa Nova. Não há experiência de chamado sem missão. É do coração do Pai que nasce o autentico missionário, uma vez que a iniciativa da missão é do Pai. Ele envia seu Filho que, por sua vez, nos envia sob o amparo do Espírito Santo. “Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos” (Mt 28,19). É da própria vida e prática de Jesus que nos alimentamos quando assumimos o desafio missionário. Ele veio para ser próximo dos pobres, dos pequenos, dos excluídos. Seu sonho é que nós também aprendêssemos a nos fazer próximos um dos outros.

É necessário que a cada dia eu me alimente de Cristo e dEle viva, para que, também a cada dia, possa anunciá-lo ao outro. Toda missão verdadeira começa dentro de mim mesmo, do meu relacionamento com Deus, do meu amor com Deus, da minha intimidade com Ele. Diante dessa experiência mística com Deus, sou capaz de sair de mim mesmo e ir ao encontro do próximo.

Esse desejo de servir precisa ser cultivado a cada dia durante meu itinerário formativo, para que eu possa ser um verdadeiro discípulo missionário no meu futuro Ministério Sacerdotal, recordando que não serei padre para satisfazer minhas vontades, nem me prender a uma única realidade, mas sim apresentar uma abertura para pregar o Evangelho a todas as partes do mundo como reza o Bispo na ordenação sacerdotal no Rito de Imposição das Mãos e Oração Consecratória: “...para que as palavras do Evangelho, caindo nos corações humanos através de sua pregação, possam dar muitos frutos e chegar até os confins da terra...Esteja ele sempre unido a nós, Senhor, para implorar a vossa misericórdia em favor do povo a ele confiado e em favor de todo o mundo”.

Que em nossos corações possa crescer o ardor missionário como se dava no coração da Padroeira das Missões Santa Teresinha do Menino Jesus: “Mas, ó meu Bem-Amado, uma única missão não me seria bastante. Quisera anunciar, ao mesmo tempo, o Evangelho pelas cinco partes do mundo até as ilhas mais remotas...”; e ainda o desejo de sair sem medo para servir como São Francisco Xavier, este grande santo missionário que entrou no Céu com quarenta e seis anos, e percorreu grandes distâncias para anunciar o Evangelho, tanto assim que se colocássemos em uma linha suas viagens, daríamos três vezes a volta na Terra. São Francisco Xavier, com dez anos de apostolado, tornou-se merecidamente o Patrono Universal das Missões ao lado de Santa Teresinha do Menino Jesus.
Se cada um de nós batizados tivermos a consciência de que o Senhor nos acompanha, a nossa missão não será estorvada por nenhuma dificuldade. Com a graça e a ajuda do Espírito Santo, que guia e fortalece a Igreja, nós poderemos, apesar das dificuldades, continuar o anúncio do Cristo. E sair de nós mesmos e servir sem medo, pois muitas vezes podemos nos acomodar e pensar que a missão é algo distante de nossa realidade e não cabe a nós diocesanos. É preciso uma “Igreja em saída”, como nos pede o Santo Padre, o Papa Francisco. Santo Agostinho ensina: “O mundo é um livro, e quem fica sentado em casa lê somente uma página”; logo precisamos sair do comodismo e servir a todos como Jesus serviu. E que o Senhor Onipotente e Criador do Universo por intercessão dos patronos da missão nos abençoe e nos dê a força de anunciar o Seu Filho, que é O mesmo ontem, hoje, amanhã e pelos séculos dos séculos.

Por Carlos Neves, seminarista, Diocese de Formosa.

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