Imprimir esta página
15 de Março de 2018

Ano do Laicato - 2017/2018

ANO DO LAICATO 

(2017-2018)

Desde a última solenidade de Cristo Rei, ocorrida aos 26 de novembro de 2017, a Igreja no Brasil vem vivenciando um “Ano do Laicato”, com conclusão prevista para o dia 25 de novembro de 2018. Trata-se de um evento eclesial de suma importância, durante o qual serão propostas às nossas comunidades, reflexões e ações para uma revalorização do laicato católico.

Para início de conversa, importa respondermos à questão: “quem são os leigos?”. O Concílio Vaticano II, na Lumen Gentium, n. 31, 1, afirma que “leigos” são todos os fiéis “que não são membros da sagrada Ordem ou do estado religioso reconhecido pela Igreja, isto é, os fiéis que, incorporados em Cristo pelo Batismo, constituídos em Povo de Deus e tornados participantes, a seu modo, da função sacerdotal, profética e real de Cristo, exercem, pela parte que lhes toca, a missão de todo o Povo cristão na Igreja e no mundo”. Com esta afirmação solene, novos passos começaram ser dados no sentido de superação da antiga concepção de que os leigos estavam em absoluta subordinação ao clero, que suas tarefas eclesiais eram limitadas, que possuíam um status de grau inferior, e num certo sentido, que eram imaturos.

Esta intuição da assembleia conciliar nos permite responder à pergunta inicial, “quem é o leigo?”. E o fazemos desde duas perspectivas diversas e complementares. Poderíamos falar de dois perfis diversos - os quais se reclamam mutuamente - para a compreensão adequada de quem é o leigo na Igreja: um perfil sacramental e um perfil apostólico.

Desde o perfil sacramental, leigo é o fiel que foi incorporado a Cristo e à Igreja mediante a recepção do Batismo, e participa na peculiaridade da sua condição laical, ao tríplice múnus do Cristo e da Igreja; participa do sacerdócio comum dos fiéis, não, porém daquele ministerial. E desde o perfil apostólico, leigo é o fiel a quem compete, como tarefa principal (todavia, sem caráter de exclusividade), a animação cristã da ordem temporal; e isto considerado o Batismo e a Confirmação recebidas, e não um simples mandato oriundo de atos da hierarquia eclesiástica. Assim, poderíamos dizer que os leigos “são” a Igreja mesma no mundo, já que dela fazem parte, de igual modo que os clérigos e os religiosos; e mais, nalguns locais específicos, ou o testemunho laical acontece, ou o Evangelho não é anunciado. A este respeito o c. 225 § 2 esclarece que os leigos “têm também o dever especial, cada um segundo a própria condição, de animar e aperfeiçoar com o espírito evangélico a ordem das realidades temporais, e assim dar testemunho de Cristo, especialmente na gestão dessas realidades e no exercício das atividades seculares”.

Para este ano do laicato 2017-2018, um tema e um lema nos foram propostos pelos bispos do Brasil: O tema: “Cristãos leigos e leigas, sujeitos na Igreja em saída, a serviço do Reino”; e o lema: “sal da terra e luz do mundo”. Estes indicativos motivam o conjunto dos fiéis, para que os cristãos leigos se apercebam membros vivos da Igreja, que o Papa Francisco deseja se coloque em atitude de prontidão, para ir ao encontro dos afastados, a fim de oferecer-lhes esperança, mediante o anúncio do nome único que nos foi dado como de salvação, Jesus Cristo. Por isso se entende que se tenha estabelecido como objetivo geral: “Como Igreja, Povo de Deus, celebrar a presença e a organização dos cristãos leigos e leigas no Brasil; aprofundar a sua identidade, vocação, espiritualidade e missão; e testemunhar Jesus Cristo e seu Reino na sociedade” (cfr. http://cnbb.net.br/ano-do-laicato-intensificara-o-trabalho-para-que-cristaos-leigos-e-leigas-sejam-sal-e-luz-na-igreja-e-na-sociedade acesso aos 21/02/2018). Esta é uma oportunidade ímpar de valorizar ainda mais a presença e a missão dos cristãos leigos e leigas na Igreja e na Sociedade.

Em base ao único batismo recebido, compete a cada um dos fiéis o direito-dever de anunciar o evangelho, respeitadas as peculiaridades da condição canônica de cada um. Por isso, a normativa do c. 225 § 1, especialmente referida aos leigos que “têm obrigação geral e gozam do direito de trabalhar para que o anúncio divino da salvação seja conhecido e aceito por todos os homens, em todo o mundo”, acrescentando que “esta obrigação é tanto mais premente naquelas circunstâncias em que somente através deles os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo”.

Estabelecido o objetivo geral, pretende-se ainda com a celebração do ano do laicato, alcançar algumas realidades específicas: a) comemorar os 30 anos do Sínodo ordinário sobre os leigos (1987) e os 30 anos da publicação da Exortação Apostólica Christifideles Laici, de São João Paulo II, sobre a Vocação e Missão dos Leigos na Igreja e no mundo (1988); b) dinamizar o estudo e a prática do documento 105 da CNBB, “Cristãos leigos e leigas na Igreja e na Sociedade”, e demais documentos do magistério eclesiástico, em especial do Papa Francisco, sobre o Laicato; c) estimular a presença e a atuação dos cristãos leigos e leigas, “verdadeiros sujeitos eclesiais” (Dap, n. 497a), como “sal, luz e fermento” na Igreja e na Sociedade.

Para a celebração do ano do laicato, as atividades foram organizadas em torno a quatro eixos: 1) eventos; 2) comunicação, catequese e celebração; 3) seminários temáticos nos Regionais; 4) publicações; e, 5) “Legado” - o que fica como legado após o Ano do Laicato (bandeira de compromisso e ação).

Este ano do laicato, então, se apresenta para a Igreja no Brasil, como uma ocasião ímpar. O conjunto dos fiéis, cada um de nós em particular, deve então oferecer o próprio contributo para, verificando a atual situação eclesial e as suas exigências, aprofundarmos mais e melhor acerca de qual seja o papel do leigo na Igreja; qual seja a sua especificidade. 

Em sua homilia na missa de abertura do ano do laicato em nossa Arquidiocese, o Cardeal Dom Sergio da Rocha afirmou categoricamente que: “os fieis são convidados a renovarem o compromisso assumido com o batismo, de evangelizar e aprofundar a reflexão sobre a missão e o ministério dos leigos e atender a convocação para o trabalho na messe do Senhor, construindo o Reino de paz e de justiça”, instando os nossos leigos a que “ajudem-nos a espalhar o evangelho, que sejam  presença da Igreja nos diversos campos da sociedade, na vida política, no mundo do trabalho, na cultura, na universidade, cultura, na escola, nos hospitais, nos meios de comunicação, entre os mais pobres, nos centros urbanos”, para enfim conclamar, “nós precisamos que vocês, leigos e leigas, ajudem-nos para que a nossa Igreja seja missionária, aquela Igreja em saída, como o Papa Francisco tanto tem ressaltado. E para que a Igreja seja a Igreja que vai ao encontro das pessoas nos diversos ambientes, nas diversas situações da sociedade, a Igreja precisa de vocês, leigos e leigas, para serem sal da terra e luz do mundo”. Segundo afirma Dom Sergio, “o ano do laicato é o momento propício para a aproximação e o engajamento dos leigos no serviço de Deus, favorecendo a valorização e o protagonismo dos leigos na pastoral da Igreja”.

 

Dom Valdir Mamede

Bispo auxiliar de Brasília