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07 de Abril de 2021

Semana Santa: Tríduo Páscal

A quaresma é um tempo em que a Igreja recomenda para o cristão uma vida de penitência, jejum e oração para que a pessoa cresça espiritualmente e humanamente, mas visando especialmente a conversão de cada um para poder chegar juntamente com Cristo à ressurreição e à vida eterna, que é a contemplação de Deus, ou seja, conhecer "a ti, o único Deus verdadeiro, e aquele que enviaste, Jesus Cristo" Jo 17,3. Após esses quarenta dias vividos de maneira intensa chega-se à celebração da Grande Semana, essa que tem como auge as celebrações da paixão, morte e ressureição de Nosso Senhor Jesus Cristo, que se dão na Quinta-feira Santa, na Sexta-feira Santa e no Sábado Santo. Esses três dias são o auge da celebração da fé cristã, pois é nesse mistério em que Cristo entrega sua vida e ressuscita no terceiro dia em que o cristianismo está fundado; é nele que se embasa toda a fé cristã, tendo em conta que, como afirmou São Paulo, "se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa pregação, vazia também é a nossa fé" ICr 1,14.

O tríduo pascal começa na Quinta-feira Santa, dia em que se celebra a instituição da Eucaristia e do sacerdócio. Nesse dia o povo de Deus é chamado a se colocar em oração pelos sacerdotes do mundo inteiro e também a voltarem o olhar com grande devoção e adoração para a Santa Eucaristia. O segundo dia é a Sexta-feira Santa, dia em que se celebra a Crucifixão e Morte de Nosso Senhor; é um dia em que o povo de Deus é chamado a viver o jejum e a abstinência de carne; dia de oração mais intensa, de voltar o olhar para Cristo na Cruz e para isso é um grande ato de devoção a oração da Via Crucis. O terceiro dia é o Sábado Santo, dia da grande Vigília em que se celebra a Ressureição de Nosso Senhor. É a grande celebração em que Cristo vence a morte; dia e celebração que dá fundamento a todos os outros Domingos, isto é, o dia do Senhor. Por fim, temos o domingo de Páscoa em que se celebra essa passagem de Cristo da morte para a vida, vencendo a morte e remindo o homem dos seus pecados. 

 

Abaixo segue a homilia feita pelo reitor do Seminário Arquidiocesano Nossa Senhora de Fátima Pe. Eduardo Peters no domingo de Páscoa, Domingo dos domingos: 

 

 Queridos irmãos e irmãs, de fato "este é o dia que o Senhor fez para nós" Sl 117, dia de alegria, dia de exultação. Talvez seja importante entendermos porque esse é o dia: o texto do evangelho diz que os discípulos ainda não tinham entendido, antes da páscoa, o que era a Ressureição dos mortos e talvez esse seja o sentido do porque esse dia é importante, é importante porque a Ressureição revoluciona o nosso modo de olhar a vida. Se pensarmos na vida simplesmente segundo os critérios do mundo, da mundanidade, com isso não quero dizer que seja uma coisa ruim, mas se pensamos na vida simplesmente como uma existência material, vamos entender a vida a partir do lado da subsistência, ou seja, da manutenção da própria vida. Nesses termos talvez faça sentido correr atrás de muito dinheiro, alcançar uma maneira de acumular bastante coisa, ter bastante o que comer para podermos viver uma vida tranquila e despreocupada. Talvez, como o discurso do homem que tinha grandes plantações e mandou aumentar seus celeiros dizendo para si mesmo: come, bebe e aproveita Cf. Lc 12,16-21. É essa é a vida segundo a logica da mundanidade, pois se olharmos o que as pessoas estão procurando, estão procurando uma saciedade daquilo que são suas necessidades imediatas: a busca do grande recursos, do poder, do dinheiro, do acumulo; nada mais é que uma resposta ao nosso instinto de subsistência, nada mais que uma resposta mundanidade. Entretanto, para nós cristãos, a vida se esvazia de significado diante da experiência da Ressureição. Ora, se a vida não é juntar essas coisas, se não é uma corrida para  para subsistir da melhor maneira possível, o que é a vida? para que serve a vida? se não estamos aqui para tentar sobreviver o maior tempo possível, qual é o sentido da existência, qual o sentido da vida? É uma pergunta feita desde o primeiro filósofo que parou para perguntar qual o sentido da sua existência e desde lá o homem vem se perguntando sobre isso. 

Hoje tavez tenhamos uma resposta muito clara na Ressureição do Senhor, pois ela revoluciona o sentido da nossa vida. Mas porque celebramos o ressuscitado? Celebramos o ressuscitado porque abre para nós uma porta do entendimento da vida que não tínhamos antes, por isso os discípulos questionam: o que ele quer dizer com o ressuscitar dos mortos? até então ninguém tinha feito isso, não estava dentro do parâmetro da nossa existência olhar a vida a luz da ressureição, tudo faz sentido simplesmente aqui. Quando Cristo ressuscita dos mortos ele revoluciona nosso olhar para a vida porque a vida não se encerra neste mundo. Hoje, talvez seja importante lermos com muito cuidado a segunda leitura Cf. Cl 3,1-4 porque  diz uma coisa que talvez seja a mais acertiva a respeito da ressureição: aspirai as coisas do alto! a vida não está contida e a vida não se resume nas coisas aqui de baixo, por isso ele diz: aspirai as coisas do alto. Paulo diz, queridos irmãos e irmãs, olhai para as coisas do alto, olhem para o chamado mais fundamental que Deus faz a respeito da nossa existência.

Qual é o sentido da nossa vida? Santo Tomás diz que o sentido pleno e fim ultimo da nossa vida é a comunhão com Deus. Se o fim ultimo da nossa vida com a comunhão com Deus, precisamos entender o que Jesus diz quando fala: não procurem os tesouros da terra que a traça corrói, onde o roedor rói tudo e tudo se acaba; ele diz: procurai os tesouros que não perecem, aquelas coisas que são maiores, mais estáveis e mais plenas Cf. Mt 6,19-21. A vida na verdade não tem sentido na subsistência, subsistir ainda não é existir, sobreviver ainda não é viver. A vida humana é chamada a um ordenamento superior. A nossa consciência nos permite tomar posse sobretudo dessa experiência transcendental, de viver uma vida em um mundo que ainda não se vê, de estabelecer uma vida interior e um cultivo de vida interior que brota justamente para uma experiência de transcendência e de valores que superam justamente a busca do que comer e do que beber. Jesus explica isso no Evangelho de Mateus 6,25-34: porque vocês se preocupam com o que comer, como o que vão beber e vestir, olhem as aves do céu e os lírios do campo, não semeiam e nem ceifam, no entanto o Pai que está nos céus os alimenta. Olhe os lírios do campo, não tecem não fiam e no entanto a veste deles é mais bela que a de Salomão, e continua dizendo: vocês não são mais do que as aves do céu?  você não são mais do que os  os lírios do campo?  as vezes, as nossas preocupações com o que temos de comer, de beber e de vestir nos tomam tanto tempo e energia que nem sequer alcançamos aquilo que o espírito humano talvez devesse procurar de modo mais elevado. E o que encontramos quando pensamos em uma vida superior? talvez aqui esteja a grande chave de leitura da Ressureição. Qual é a grande consistência que supera toda inconsistência desse mundo? podemos definir em uma palavra só : é o amor. O amor, porque a Cruz não foi capaz de deter o amor, porque a morte não foi capaz de trancar o amor, porque nada nesse mundo tem capacidade ou competência de superar o amor e sabe porque queridos irmãos e irmãs? São João explica isso de maneira direta e tácita: "Deus é amor" IJo 4,8 . Por isso, o único mandamento do senhor é: amai-vos uns aos outros Jo 12,34. Por isso, o desejo de que a nossa comunidade seja uma comunidade fraternal onde olho o outro não como desafio para mim, mas como o irmão que devo amar e ajudar a crescer.

O amor é a forma, princípio e essência de todas as virtudes e todos os valores que são nobres, grandes e belos, nenhum deles é desprovido da essência do amor: falemos da prudência, lá esta o amor; falemos da fortaleza, lá esta o amor; falemos da temperança, do equilíbrio, lá esta o amor; falemos da justiça, lá esta o amor; da fé e da esperança, lá está o amor. São Paulo na sua carta diz: todas as coisas passam IICr 4,18 e o que não passa, queridos irmãos e irmãs, é o amor, porque o amor é a essência de Deus, porque Deus é amor. Assim, quando escutamos hoje a fala de São Paulo precisamos compreender nela qual é a grande força da Ressureição e de onde vem a grande força da Ressureição? a força da Ressureição vem do amor que é Deus, por isso ultrapassa tudo, supera tudo, suporta tudo, resolve tudo Cf. ICr 4,7. Desta maneira, se  nós queremos de fato encontrar a verdadeira felicidade e sentido da nossa vida, temos que deixar um pouco essa pergunta sobre o que comer, beber ou vestir. São coisas importantes? são; são coisas que respondem a subsistência a nós; precisamos buscar essas coisas? sim; elas são a essência da nossa vida? NÃO. Quando colocamos essas coisas como essência da nossa vida nós nos coisificamos, nos tornamos menores do que aquilo que verdadeiramente somos, transformamos nossa dignidade de filhos amados de Deus em mera coisa e é aqui onde os seres humanos muitas vezes se prestam a se tornarem inclusive comércio, onde o corpo se torna muito mais uma experiência de consumo do que a resposta ou imagem e semelhança de Deus nesse mundo. É aqui onde usamos os outros muito mais do que vemos, isto é, como uma perspectiva de fim em si mesmo e é aqui onde muitas vezes nossa vida se torna vazia, porque fica fundada num critério de utilidade onde abandoamos de modo concreto o verdadeiro sentido da nossa vida que está ordenado para a comunhão com Deus, comunhão que começa quando nos tornamos capazes de fazer verdadeira comunhão com o s outros.

Enfim, este é de fato "o dia que o senhor fez para nós", porque a luz da ressurreição deve revolucionar nosso olhar , deve revolucionar o modo como vemos nossa vida, como vemos a vida dos outros, como vemos o sentido da nossa própria existência. Se em todo ordenamento nosso é necessário fazer projetos, queridos irmãos e irmãs, façamos hoje também junto com Jesus nosso projeto de céu e como alcançamos o céu? alcançamos consolidando nossa vida aspirando essas coisas do alto, procurando viver não como cidadões desse mundo mas sobretudo como cidadões chamados para o céu, procurando viver não simplesmente procurando sustentar essa vida frágil que temos, mas sobretudo tentando consolidar a verdadeira vida que consiste na eternidade que todos nós devemos procurar. Ao olharmos hoje para a Ressureição nosso coração deveria se encher de alegria, porque hoje Deus dá um verdadeiro sentido da nossa vida ultrapassando a lógica e mundanidade que vivemos e que nos chama a olhar uma realidade muito mais transcendental. O nosso olhar, ao olharmos para a ressureição entende que nosso corpo não está chamado simplesmente ao túmulo e à cova como estamos vendo nos noticiários tantos serem abertos. Nosso corpo é chamado à glória que vem do Senhor, o nosso corpo é chamado também à ressureição porque o homem não foi entregue à morte; a força do amor foi capaz de transformar a morte em vida e foi capaz de chamar cada um de nós a uma experiência que esse mundo não pode dar. Quem quiser viver de céu e quem quiser começar a construir o seu céu entenda rapidamente com pressa e com vigor o que significa o amor.

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo! Para Sempre seja louvado.

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